5/16/2011

O silêncio de todos nós



“Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores e matam o nosso cão. E não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque nunca dissemos nada, já não poderemos dizer mais nada”. Esse texto reflexivo é creditado ao poeta russo Maiakovski em alguns locais da internet, mas em outros, os créditos vão para Eduardo Alves da Costa. Seja quem for o autor, não diminui a eloquência dele.
De todas as partes do mundo nos chegam noticias aterradoras. Guerras desnecessárias, assaltos, incestos, pedofilia, crimes bárbaros. Mata-se por nada. A vida vale menos do que um celular, um par de tênis ou uma carteira com cheques e cartões.
Alunos agridem professores, não só verbalmente, mas chegam a lesioná-los fisicamente. Filhos matam pais e pais assassinam os próprios filhos. Amante revoltada estrangula a filha do namorado por não controlar o ciúme. Mãe joga filha recém nascida no lixo alegando que não podia cuidar dela porque ganhava pouco.
A humanidade está gravemente enferma e não existe um remédio eficiente para combater o mal que a acomete.
Os prognósticos não são nada bons. Como trazer à luz tantas pessoas envoltas nas trevas? Existe um remédio, uma poção mágica, uma varinha de condão que transforme a aura do planeta?
Violam-se regras, atropelam-se princípios éticos, morais, espirituais e jurídicos. O exemplo vem até de quem deveria zelar por esses valores. E o povo acata sem se rebelar. Como bois rumo ao matadouro, seguimos calados, entorpecidos, sem ação.
Se a coisa anda ruim entre os humanos, imaginem com os animais, criaturas que não podem se defender, à mercê da raça humana.
Uma cadela idosa foi assassinada a vassouradas dentro do portão da residência dos donos. Um cão pit bull foi amarrado com tiras de borracha e jogado num córrego para morrer aos poucos. A farra do boi continua na semana santa, as brigas de galo, rodeios, e outras contravenções são realizadas à revelia das leis que as proíbem.
Sinto que as pessoas perderam a capacidade de se indignar. Engolem todo o bolo indigesto e acabam aceitando a violência sem reagir. Criam uma couraça de indiferença para não sofrer. O coração endurece. Não é comigo, então, vamos prosseguir a vida. Não foi meu filho, não foi meu cão, a guerra não é no meu país.
E assim, a violência se agiganta, adubada pela nossa apatia e pela impunidade.
Perdemos a capacidade de reagir? Extinguiu-se a nossa faculdade de ficar indignados? Desaprendemos como clamar por justiça e como cobrar das autoridades a aplicação das leis que existem “para inglês ver”? Não possuímos mais o dom da compaixão? Afinal, somos gente ou robôs?
Manter-se neutro ajuda o opressor e não a vítima. E nem sempre o silêncio é de ouro, às vezes é preciso falar, gritar, vociferar, protestar em altos brados, engrossar o coro com outras vozes indignadas e fazer com que ecoem pelo mundo e cheguem aos ouvidos de quem pode mudar o rumo das coisas.
Dizem que se peca por pensamentos, palavras e obras, mas acrescento: peca-se por omissão também. Urge que se concretizem ações!

Texto Ivana Maria França de Negri é escritora

4 Comments:

Blogger Naira Fernanda said...

Este comentário foi removido pelo autor.

segunda-feira, 16 maio, 2011  
Blogger Naira Fernanda said...

Excelente esse texto Deniz, parabéns pela postagem. E infelismente essa é a realidade da nssa humanindade. As coisas acontecem a um plamo do nosso nariz, mas como vc disse, não foi conosco, então nada fazemos. Sou nova, mas sinto que os jovens de hoje, não tem mais aquele desejo de justiça, de correr atras de um mundo melhor para seus próprios filhos. Hoje a justiça que se faz é sangrenta, terrível, e muitas vezes por motivos "bestas".
Gostaria que os filhos que eu ainda nem tive, tivessem lembranças da época de seus pais, assim como tenho da de meus pais, aquelas que eu aprendi na escola. Se lutava, pelo bem geral, uma nação que clamava por justiça sem prejudicar o próximo.

Parbéns pela postagem e pelo blog LINDO. Tenho um blog também e sevc me permitir vou postar esse texto nele, e assim tentar as poucos um mundo melhor.

Um grande beijo

Naira Fernanda

segunda-feira, 16 maio, 2011  
Blogger Unknown said...

Oi Naira, fique a vontade....para utilizar o texto
Estava aqui pensando...
Alguns (karmas) podem ser modificados e outros não podem.
Quando preparamos uma sobremesa, se há pouco açúcar ou pouca manteiga, muito ou pouco leite, tudo pode ser ajustado, mas uma vez cozida, não pode ser revertido processo, ou seja realmente não tem mais o desejo de justiça na maioria...muitos vieram de processos onde o cozimento já foi, é não muda mais, apenas conseqüências pela cegueira e omissão, mas....ainda temos uma minoria que pode ver além e fazer a diferença.
Bj
Denis Rezende

segunda-feira, 16 maio, 2011  
Blogger Naira Fernanda said...

Oi Denis, obrigado já postei e tenha certeza muitos coméntários haverão, afinal muitas pessoas assim como nós ja estão cansadas de tanta impunidfade, de tanta injustiça.
Lindas e reais suas palavras, e como vc mesmo disse, também acredito na minoria, essa qual eu faço parte, que não espero o cozimento, procuro fazer minhas alterações antes do final.

Um grande beijos

Naira

terça-feira, 24 maio, 2011  

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